O dilema do Minha Casa Minha Vida na Grande São Paulo

O dilema do Minha Casa Minha Vida na Grande São Paulo

Ricardo Cardoso é gerente Administrativo e Estratégico da EPH Incorporadora

Redação ImobiPress

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Publicado em 19/05/2025 às 14:35 / Leia em 3 minutos

O programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) segue como um dos pilares mais importantes da política habitacional no Brasil, e na Grande São Paulo, ele é não só necessário, como urgente. Com a recente inclusão da Faixa 4 foi aberto novas possibilidades para o setor imobiliário, especialmente para incorporadoras que atuam fortemente no segmento econômico. A ampliação do público-alvo para as empresas permite incluir no Programa produtos que antes estavam fora do escopo, além de facilitar o acesso da população a unidades com melhores condições de compra.

Apesar disso, o cenário está longe de ser simples. A concorrência é intensa e o cliente está mais informado e exigente, o que torna essencial a diferenciação. O produto padrão do MCMV, por seu foco em redução de custos e otimização de espaços, leva a uma padronização que limita a inovação visível aos olhos do consumidor. Em outras palavras, o mercado ainda oferece empreendimentos muito semelhantes entre si. Para se destacar, é preciso mais do que o básico: é necessário criar valor percebido, seja por meio de localização estratégica, projetos arquitetônicos mais eficientes ou iniciativas sociais e ambientais que aproximem a incorporadora da comunidade local.

Para navegar neste ambiente desafiador, é importante adotar uma abordagem rigorosamente orientada a dados. Desde a concepção do empreendimento, é necessário estudar a Grande São Paulo com base em demografia, renda e oferta local, garantindo que os projetos tenham demanda efetiva. O controle de custos, tanto de obra quanto de rotina administrativa, é inegociável para manter a viabilidade econômica dentro dos parâmetros do programa.

A maior dificuldade, hoje, não está apenas na execução — mas na prospecção: encontrar terrenos bem localizados, com potencial de absorção e custo viável para empreendimentos econômicos, tornou-se um verdadeiro quebra-cabeça. A tendência de mercado aponta para apartamentos cada vez mais compactos, o que desafia o setor a reinventar o uso de espaço e infraestrutura sem sacrificar a qualidade mínima esperada.

Ainda que o Programa tenha facilitado o acesso à moradia para famílias de baixa renda na capital, a demanda segue superior à oferta. Em diversos municípios da Grande São Paulo, o déficit habitacional continua gritante. É nesse cenário que temos a missão — e a oportunidade — de executar bons projetos garantindo moradia digna à população trazendo inovação e diferenciais nas construções de empreendimentos populares.

Precisamos nos preparar para um futuro que exigirá ainda mais adaptabilidade. A reforma tributária terá impactos significativos no setor e as incorporadoras precisam se adiantar para estudar as melhores formas de mitigar seus efeitos sem repassar os tributos ao cliente final. Importante também, que o mercado da incorporação esteja atento a isso, se ajuste com responsabilidade e boa estratégia.

O Minha Casa Minha Vida continua sendo uma ferramenta fundamental para o acesso à moradia no Brasil. Mas, para que o Programa continue cumprindo seu papel, é preciso encará-lo com visão estratégica, capacidade de adaptação e compromisso real com a qualidade de vida urbana. Não se trata apenas de vender unidades habitacionais — trata-se de construir cidades mais humanas, inclusivas e resilientes. E isso só será possível com dados, eficiência, inovação e escuta ativa das necessidades reais da população.

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